28.3.24

Eloy Sánchez Rosillo (Impromptu)




IMPROMPTU

 

Hoy que termina marzo
y que el sol de la tarde, ya vencido,
se tiende extenuado sobre el mar
y ahí, al tocar las aguas,
se va apagando en un chisporroteo
de ascuas pequeñas y de signos de oro,
cómo no agradecer emocionado,
antes de que la noche sobrevenga,
que este instante del mundo
- tan alegre, tan triste, tan intenso
como todo lo hermoso -
coincida en su existir con mi existir
y lo sepan mis ojos.

Eloy Sánchez Rosillo

 

 

Hoje, que Março acaba
e o sol da tarde, já vencido,
se estende fatigado sobre o mar
e aí, ao tocar nas águas,
se vai apagando num crepitar
de brasas pequenas e sinais de oiro,
como não agradecer emocionado,
antes de a noite cair,
que este instante do mundo
– tão alegre, tão triste, tão intenso
como tudo o que é belo –
coincida no seu existir com o meu existir
e meus olhos o saibam.


(Trad. A.M.)

.

26.3.24

Tanussi Cardoso (Da poesia)

 



DA POESIA 

 

o canto do pássaro
à procura do vento
não

a promessa de amor
nas faces da lua
não

o medo do mundo
em cima do muro
não

o malabarista
na corda-bamba
não

o olho do tigre
exato certeiro
preciso

o olho do tigre
sim


Tanussi Cardoso

 .

24.3.24

David Mayor (Distância crítica)




DISTANCIA CRÍTICA

 

El más cotidiano y eficaz de los experimentos
morales y políticos,
el principal reto - corregirte, substituir
lo que dices por lo que no dices -
impide que los amigos se conviertan en fantasmas,
buques de carga alejándose de la costa.


David Mayor

  

A mais quotidiana e eficaz das experiências
morais e políticas,
o maior desafio – corrigir-te, substituir
o que dizes pelo que não dizes –
impede os amigos de se converterem
em fantasmas,
navios de carga afastando-se da costa.


(Trad. A.M.)

.

23.3.24

David González (Pássaros)




PÁJAROS

 

en la acera
de enfrente:

un árbol
y
una farola
del alumbrado,

abrazados,

como
una pareja
de novios.

pero
solo
el
árbol
tiene
pájaros.

David González

 

no passeio 
em frente 

uma árvore 

um candeeiro 
de iluminação,
abraçados

como 
um par 
de noivos.

Mas 
só 

árvore 
tem 
pássaros.

(Trad. A.M.)

 .

21.3.24

Alexandre Pinheiro Torres (Super flumina)



SUPER FLUMINA

 

Ó desamável pátria minha     Tens vivido
do sangue do teu Filho   Mas agora
que toco teus seios de maçã tudo
me é indiferente    É tão fácil a

tua poesia de tramar lágrimas   Sei
teu parado sonho de passarem tudo
por cavalos brancos e que o sol se
economize em todo o mundo   não em ti

Crescem meus braços por teus ramos
esponjados   Continua-te um céu
em jejum de tempestade   Beberes o meu
é a forma de me teres e amar


ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
A Terra de meu Pai
Plátano (1972)


>>  Antonio Miranda (5p) / Facebook (alguns p) / Archive (perfil) / Wikipedia

.


19.3.24

Roberto Juarroz (Dar tudo por perdido)




(24)

 

Darlo todo por perdido.
Allí comienza lo abierto.
Entonces cualquier paso
puede ser el primero.
O cualquier gesto logra
sumar todos los gestos.
Darlo todo por perdido
Dejar que se abran solas
las puertas que faltan.
O mejor:
dejar que no se abran.


Roberto Juarroz

 

 

Dar tudo por perdido,
aí começa o caminho.
Qualquer passo então
pode ser o primeiro.
Ou qualquer gesto logra
conter todos os gestos.
Dar tudo por perdido,
deixar abrir sozinhas
as portas necessárias.
Ou melhor,
deixar que não se abram.


(Trad. A.M.)

.

18.3.24

Cristina Peri Rossi (Teoria literária)




TEORÍA LITERARIA 

 

Escriben porque tienen el pene corto
o la nariz torcida
Porque un amigo les robó la amante
y otro les ganaba al póker
Escriben porque quieren ser jefes de la tribu
y tener muchas mujeres
un cargo político
un tribunal
Por unas cuantas palabras
una tarima
(muchas mujeres). 

No se leen entre ellos
no se lo toman en serio:
Nadie está dispuesto a morir
colocadas en fila
(de izquierda a derecha,
no al estilo árabe)
ni por unas cuantas mujeres:
después de los cuarenta,
todos son posmodernos.
 

Cristina Peri Rossi 

[Emma Gunst] 

 

Escrevem porque têm o pénis pequeno
ou o nariz torto
Porque um amigo lhes roubou a amante
e outro lhes ganhava ao póquer
Escrevem porque querem ser chefes da tribo
e ter muitas mulheres
um cargo político
um tribunal
Por umas quantas palavras
uma tarimba
(vá, muitas mulheres).

Não se lêem uns aos outros
nem o levam a sério:
Não estão dispostos a morrer
alinhados
(da esquerda para a direita,
não ao estilo árabe)
nem por umas quantas mulheres:
depois dos quarenta,
são todos pós-modernos.


(Trad. A.M.)

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